Publicado em: 10/10/2019 13:23:18
A conjuntura atual tem apontado para um avanço sobre os territórios, com invasões e retirada de direitos, com o esvaziamento de políticas públicas e a desorganização dos órgãos responsáveis pelo atendimento dos povos tradicionais.
Carta aberta dos Povos Tradicionais do Vale do Guaporé:
O Vale do Guaporé foi um território de liberdade e de resistência. Conta à história, que no Brasil correu a fama que aqui viviam os negros em liberdadeRecontar essa história e mantê-la viva é reafirmar as identidades: “é o fato de dizer que tenho uma origem, tenho uma história e isso tem valor”. Essa história continua sendo escrita hoje, com a luta e a resistência das comunidades tradicionais do Vale do Guaporé. São as águas de quatro importantes rios: São Miguel, Manuel Correia, Guaporé e Cautário, que reuniram nos dias 5 e 6 de outubro de 2019 na Comunidade Quilombola de Santa-Fé, as comunidades quilombolas: Santa-Fé, Santo Antônio; Jesus; Pedras Negras, Forte Príncipe da Beira, etnias indígenas: Puruborá; Kujubim; Miguelenos, e ainda extrativistas da reserva extrativista do Rio Cautário, para celebrar a vida das comunidades, fortalecer as identidades e a cultura, refletir o momento atual, articular as lutas por direitos e políticas públicas e reafirmar a necessária resistência!
A conjuntura atual tem apontado para um avanço sobre os territórios, com invasões e retirada de direitos, com o esvaziamento de políticas públicas e a desorganização dos órgãos responsáveis pelo atendimento dos povos tradicionais. O Aumento da violência é uma das faces desse cenário, segundo a CONAQ de 2016 para 2017 a violência contra os negros aumentou em 350%. A invasão dos territórios tradicionais, as queimadas e o desmatamento são uma tragédia ambiental, mas também social, pela relação de interdependência das comunidades tradicionais e o território, fonte da vida, da espiritualidade e da cultura dos povos.
Denunciamos o modelo expansionista e devastador da agricultura pautado no agronegócio. Os povos tradicionais sempre produziram alimento convivendo de forma harmônica com a Floresta Amazônica. Denunciamos o Estado Brasileiro, que por meio de Projetos de Emenda Constitucional-PECs, Medidas Provisórias e audiências, vêm negociando os territórios, propondo a autorização de arrendamento de terras e a liberação para a exploração de minérios.
Não abrimos mão do direito de consulta prévia e dizemos Não ao modelo de exploração, que representa a morte da floresta e dos povos. Nós continuaremos lutando pela libertação da terra e pela nossa libertação! Dona Mafalda matriarca de Santa-Fé.Seis povos no estado de Rondônia estão lutando pela demarcação de seus territórios, segundo o CIMI.
“O nosso povo foi expulso do nosso território tradicional e estamos lutando até hoje... estou participando para aprender... é ruim a interferência do IBAMA proibindo de caçar, pescar, aplicando multas... vocês sabem que indígenas vivem de pesca e caça”. Josigleuma Migueleno
Leia na íntegra a Carta dos Povos Tradicionais do Vale do Guaporé em RO em: Carta dos Povos Tradicionais do Vale do Guaporé
Fonte: CPT/RO